A bioprodução. O capitalismo cognitivo produz conhecimentos por meio de conhecimento e vida por meio de vida. Entrevista com
Yann Moulier-Boutang. Disponível em <
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=858&secao=216 >. Acesso em 25 out. 2009.
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IHU On-Line - O senhor afirma que as transformações simultâneas na natureza do trabalho, da substância e da forma do valor levam a uma instabilidade de proporções tais que fazem o capitalismo voltar em seu conjunto a uma situação pré-keynesiana. Qual é a contradição fundamental posta pela emergência do regime de capitalismo cognitivo?
Yann Moulier-Boutang - A instabilidade intrínseca do capitalismo cognitivo faz este último ainda não ter encontrado um "regime" regular. Por enquanto se "regula" através de minicrises financeiras e de exigências vertiginosas de taxas de lucro. A que se deve sua instabilidade?
1º) Em primeiro lugar, ao fato de que o coração da exploração do capitalismo cognitivo repousa sobre a exploração do 2º degrau da força de invenção do
trabalho vivo cooperando em rede e que ela só pode se desenvolver pela produção de bens de conhecimento; ora, esses bens são bens quase públicos. Eles são indivisíveis, não rivais nem excluíveis. Da mesma forma, sua mercantilização levanta bem mais problemas do que a dos bens de mercado materiais.
2º) A segunda contradição, que vem exasperar a primeira, é que a apropriação das NTIC pelo maior número, que é uma condição sine qua non da produção de bens cognitivos, em vez de reforçar a mercantilização, torna cada vez mais difícil e ilegítima a execução dos direitos de propriedade privativos. Processos para telecarregamentos, na gigantesca batalha dos medicamentos genéricos no quadro de um ciclo de Doha, passando pela batalha dos DRM (Digital Rights Management), o mundo global está de cheio na batalha das "new enclosures"
3º) A terceira contradição é uma crise de medida: do tempo, da atenção, da hierarquia, do que se chamava de valor no sentido dos marginalistas. O tempo de produção de um produto não se mensura mais pelo tempo de trabalho consagrado à sua produção industrial. A reprodução de um bem cognitivo e de um bem informacional não é seu valor, que ele deriva do incremento de inovação e de conhecimento em direção e no aval do estreito feixe da produção de produto. Ela se situa no processo e no halo de intangíveis, que não é sequer o conhecimento codificado.
4º) O preço de uma informação ou de um bem cognitivo oscila, então, do incomensurável, do infinito, ao nada, ao gratuito. As empresas confrontadas com este problema só podem reagir procurando, ainda mais do que no capitalismo industrial, adquirir uma posição monopolista que permita praticar preços astronômicos.
Imediatamente, o setor da distribuição de bens materiais, da circulação financeira, da circulação de informação (a mídia) são igualmente levados a praticar preços muito elevados e estabelecer taxas de lucro que a economia material é incapaz de produzir, salvo explorando ferozmente, segundo os esquemas mais badalados do capitalismo industrial que reinava em Manchester, a força de trabalho do Terceiro Mundo e dos países gigantescos como o Brasil, a China, a Índia, a Nigéria.
Após vinte anos, com a queda do segundo mundo socialista, a rentabilidade financeira exigida das empresas se regula pela rentabilidade do setor de ponta do capitalismo cognitivo. O rendimento sobre o investimento de 14 a 15% produz uma incoerência muito forte entre o capitalismo industrial submetido sem cessar a novas reestruturações, ao desemprego crescente dos assalariados da velha economia e o capitalismo cognitivo que nem sempre produz um modelo de
recomposição.
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Aprendizado e crescimento:
desenvolvimento dinâmico
Palavras-chave:
valor de troca,
ciência cognitiva,
rendimento,
conversas,
salários,
trabalho,
preço,
ritmo,
vida
Keywords:
cognitive capitalism
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GregorioIvanoff - 21 Feb 2019
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