Há outro debate ocorrendo atualmente, longe da atenção das massas, que pode afetar
a longevidade do Long Boom. O ponto central desse debate diz respeito a cortes nos impostos, e
se eles deveriam favorecer as pessoas relativamente ricas ou as pessoas relativamente pobres.
Subjacente ao debate, contudo, vemos a preocupação de que a sociedade americana possa
estar favorecendo "os incluídos" à custa dos "excluídos". Na verdade, os Estados Unidos são
muito eficientes em termos do atendimento oferecido a ambos os
grupos. Os mais abastados
são os 20% superiores da população americana (em renda bruta), que dispõem de alta riqueza
relativa. O outro grupo consiste nos 20% com menor renda, que vivem na pobreza. Ambos os
grupos estão na "tela do radar" dos legisladores; ambos são vistos como merecedores de ajuda,
com incentivos fiscais ou subsídios.
A população negligenciada consiste nos 60% restantes. O grupo mais crítico são as
pessoas cuja renda bruta as coloca na faixa de 20 a 40% da população em termos de
rendimentos.
São pessoas que estão apenas um passo acima da linha da pobreza. Elas se
saíram bem durante o período de auge das ponto.com; o problema é o que acontece agora.
Industriários de áreas rurais, famílias de militares, trabalhadores sazonais, muitos profissionais liberais (como taxistas e enfermeiros que atendem em domicílio) e muitos lares com pai ou mãe solteiros encaixam-se nesta categoria. Outros países, como Japão e Alemanha, saem-se muito
bem ao apoiar essas pessoas como elementos produtivos da sociedade, mas os Estados Unidos
tendem a tratá-las como se não existissem.
Elas são pobres demais, por exemplo, para terem planos de saúde, mas estão bem demais para receberem assistência médica gratuita.
Como resultado, o país sofre. É possível perceber a diferença na qualidade dos
serviços prestados e
qualidade de vida em geral.
São pessoas que sofrem por problemas de
saneamento básico, alcoolismo, baixa escolarização e falta de oportunidades. Ironicamente, os
Estados Unidos - que foram fundados como uma reação contra a repressão européia praticada
pela classe alta - criou, inadvertidamente, sua própria classe de pessoas sistematicamente
puxadas para baixo.
Essas pessoas importam muito mais para a economia do que geralmente reconhecemos. Quando elas vão bem, a economia vai bem. Durante o período de prosperidade
das ponto.com, por exemplo, essas pessoas viveram uma época de fartura. Os salários aumentaram e o custo de vida permaneceu baixo. Assim, elas progrediram em termos materiais. Algumas, que pagavam aluguel, conseguiram comprar suas casas. Outras deixaram a
economia informal e conseguiram empregos fixos - por exemplo, a empresa Webvan contratou muitas
dessas pessoas para seu serviço de entrega. Elas tiveram oportunidade de treinamento para
empregos mais qualificados e seus filhos também tiveram melhores oportunidades.
Porém, nos últimos três anos, esse grupo de 20 a 40% perdeu terreno. O custo de vida
subiu e os salários caíram. Os empregos ficaram mais escassos. Essas pessoas foram desproporcionalmente atingidas, e nós também sofremos porque elas são a roda principal da economia. Quando elas vão bem, consumo e investimentos são aquecidos, pelo menos na
mesma razão em que isso ocorre com os mais ricos. O bem-estar do grupo dos 20-40% deveria
ser um objetivo social e político importante para os Estados Unidos, além de um objetivo
econômico. Suspeito, embora não possa provar, que o Long Boom só seja possível se melhorar
as perspectivas desse grupo. Se isso não ocorrer, então o Long Boom, embora ainda visível, não
atingirá seu potencial (Schwartz, 2003,
surpresas inevitáveis).
Processo:
economia em produtivos
Aprendizado e crescimento:
economia
Palavras-chave:
perspectivas em cenários,
surpresas inevitáveis,
transição,
atenção
Schwartz, Peter. Cenários: As surpresas inevitáveis. Rio de Janeiro: Editora Campus,
2003. Tradução: Maria Batista.
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GregorioIvanoff - 04 Jan 2021
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