Ética e Negócios
Ética são ações empresariais de responsabilidade social? Definitivamente, não.
Para o consultor de empresas
Julio Lobos, que acaba de editar seu livro "Ética & Negócios" pelo Instituto da Qualidade e que será tema de um debate, no próximo dia 18, na Câmara Americana de Comércio de São Paulo (AmCham - SP), "é gritante o buraco negro construído em torno do conceito ético".
As empresas passaram a se preocupar com a educação de seus funcionários, construíram creches, mostraram-se mais humanas ...
Tudo isso tem levado ao "uso, por parte da mídia, da ética pelo lado visível, da responsabilidade social", diz Lobos.
Ele lembra, porém, como tem havido uma transgressão de valores: "de repente, os EUA caíram de joelhos pelas empresas e executivos que depois fraudaram bilhões de dólares.
É que essas empresas tinham creches e programas sociais. A Arthur Andersen, que auditava as contas de empresas como a Enron, cujos registros contábeis não passavam de falsificações, tinha um programa com a Business School de Londres sobre ética".
Lobos chama a
responsabilidade social de "ética festiva". É mais fácil falar de creches, dá uma visibilidade maior.
A ética está sendo tratada pelo departamento de marketing, que cuida da imagem da empresa, mas deveria ser uma questão do CEO (principal executivo), comenta o consultor.
Para Julio Lobos, a América Latina e, em particular, o Brasil, vivem situação pior do que nos EUA.
Casos como o do Banco Nacional ou Bamerindus, diz ele, se perderam no horizonte. "Não vejo por parte da mídia e muito menos por parte dos empresários uma atitude de falar abertamente sobre ética e negócios.
Todas as empresas que eu consultei para o livro fizeram comentários "off the record", menos a Natura, à qual o livro dedica o episódio A Verdade é sempre Estranha.
A empresa, nascida em 1969, fatura hoje US$ 500 milhões, emprega 2,7 mil pessoas e mobiliza mais de 250 mil consultoras em quatro países.
A Natura "é sinônimo de inovação no meio empresarial brasileiro", descreve o autor. Em 1989, em meio a uma
reorganização crucial, a Natura resolveu "radicalizar o compromisso com a Verdade, como base nas suas relações com fornecedores, clientes, autoridades, empregados..."
A companhia, que enfrentou e ganhou dois processos cinco anos depois - multa por não tributar os lucros de suas colaboradoras ("consultoras" autônomas) e acidente com vítima fatal em uma das fábricas - "atingiu o Nirvana das corporações do século XXI - propor-se ser íntegra, sem deixar de ser próspera...
Como? Um elenco de crenças e valores dá o rumo, e um frondoso
Relatório Anual", que mistura apenas 12 indicadores de desempenho financeiro com outros 77 relativos à qualidade das relações com os "stakeholders" - empregados, clientes, fornecedores, vizinhança, ambiente ecológico e sociedade em geral".
O
desempenho corporativo da Natura é medido por:
- contribuição econômica (retorno dos "stakeholders", preservação do patrimônio);
- contribuição ambiental (redução dos impactos das operações sobre a biodiversidade);
- gestão de relações (respeito aos "stakeholders", internos e externos, por exemplo, clientes, empregados, Fisco);
- contribuição social (benemerência, voluntariado, abstenção e denúncia de práticas imorais - trabalho infantil, por exemplo);
- contribuição moral (apoio a lideranças éticas, tanto no meio empresarial como internamente; honrar crenças e valores, aproximando o discurso da ação)", descreve Lobos.
Para ele, é possível voltar aos princípios aristotélicos. "Sócrates, Platão e Aristóteles concordam em que o Bem é algo natural no ser humano.
A prática de virtudes como Justiça, Caridade e Generosidade lhe trazem a felicidade. É a Teoria do Amor", diz Lobos. "Prefiro pender para este extremo do que continuar testando limites", acrescenta, referindo-se ao fato de que hoje em dia a competição é tão forte, assim como a mentalidade de cultura organizacional é tão grande, que os executivos precisam fazer tudo pela empresa, não importa se a sociedade vier a se prejudicar".
Julio Lobos, PhD pela Cornell University e fundador do Instituto da Qualidade, tem sido consultor de grandes empresas por mais de 25 anos. Ele diz que "lealdade à organização, e às pessoas que dela fazem parte, é a marca registrada de uma nova moral.
Nela o que mais conta é não afrontar o grupo e sua ideologia - a chamada "cultura organizacional". Louvam-se a obediência, a docilidade, a disciplina - os elementos mecânicos para decidir.
O auto-respeito, a integridade, a autonomia, a consciência e a responsabilidade individual - os elementos espirituais - são considerados acessórios. Ou impertinentes".
Exigências de sucesso e de lucro pressionam as pessoas e empresas a se afastarem das virtudes aristotélicas: verdade, justiça e honestidade.
Mas, como diz Lobos, "a idéia é demonstrar que a vida pautada na ética, tal como concebida pelos gregos, na sua essência continua vigente - inclusive em ambientes de negócios, ou corporativos, onde a competição e a ambição imperam.
E por outro lado, que é fútil a tentativa das empresas - ou melhor, das pessoas que as dirigem - de tergiversá-la, criando uma ética empresarial meio bastarda, apenas para justificar o injustificável".
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Maria Helena Tachinardi, Editora de Assuntos Internacionais do Jornal Gazeta Mercantil, 10 dez.
2003.
Aprendizado e crescimento:
sociedades
Palavras-chave:
diversidade em impacto,
integridade,
requisitos,
cultura
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12
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GregorioIvanoff - 21 Jul 2006
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