Conquiste o seu Everest
Por
Luciano Pires, 13/8/2002
Executivo de uma grande empresa global. Sedentário. Casado. Com filhos. Estressado. Sem tempo ...
Era esse o meu perfil em abril de 2000, quando resolvi que partiria atrás de um sonho antigo: chegar até o Campo Base do Everest, passando por altitudes de até 5.700 metros, na Cordilheira do Himalaia, no Nepal.
Minha experiência com caminhadas com mochilas às costas?
Nenhuma.
Com altitudes? Bariloche, por volta dos 3 mil metros.
Mas eu resolvi que ia e parti atrás de meu sonho. Coloquei como objetivo viajar em abril de 2001. Assim eu teria um ano para me preparar.
E descobri que, utilizando quatro "Cês" eu poderia ter sucesso.
O primeiro C é de
CONHECIMENTO: eu estava diante de um desafio inédito. Diferente de tudo que eu até então conhecia, precisando reduzir a ansiedade, os riscos. Eu tinha que entender o que me esperava e como fazer para superar obstáculos que eu simplesmente desconhecia.
A primeira atitude foi recolher o maior número de dados disponíveis. Li e assisti tudo que pude sobre o Everest, o Himalaia e as altas montanhas. Comecei a compreender os perigos do mal de altitude, que ataca as pessoas e pode provocar até a morte por edema pulmonar ou cerebral.
E logo descobri que os dados que eu recolhia, eram somente aquilo que era possível ser codificado, sobre o Everest. O que estava implícito, impossível de traduzir em palavras, não cabia num livro. Num filme. Passei então a contatar pessoas que fizeram a viagem, convidando para uma pizza acompanhada de fotos e de relatos da experiência vivida. Eu procurava o conhecimento implícito que, conforme os especialistas, é 70% do conhecimento que é possível adquirir. E fui me tornando, teoricamente, um expert em Everest.
Comprei o pacote de viagem com a Mountain Madness, empresa especializada em levar "turistas" até o Campo Base. Eu queria gente com experiência. Eu não ia entrar numa aventura para morrer no Everest.
Me preparei fisicamente. Fui para Itatiaia e fiz Agulhas Negras, meu primeiro cume! A 2.700 metros ... no Nepal eu iria a 5.700!
Logo, eu sabia quase tudo e mais um pouco. Estava bem confiante e seguro do que teria que fazer para enfrentar a viagem. Pronto para cair na trilha. Parti então para uma aventura de 15 dias e 200 quilômetros entre as montanhas mais altas do mundo. Com um frio na barriga e sob os olhares de desaprovação, admiração e preocupação dos amigos e familiares.
E descobri o segundo "Ce" do Everest:
CRIATIVIDADE.
Como enfrentar um mundo novo? Uma situação em que meu
corpo reagiria de forma diferente de tudo que eu conhecia? Eu era o único brasileiro entre um grupo de americanos, no meio de um monte de sherpas ... o alienígena entre os alienígenas.
Eu iria usar banheiros onde não existiam banheiros. Ia dormir num saco, temperaturas abaixo de zero. Ia comer algo estranho. Ia obedecer um líder numa situação inusitada.
Eu teria que me virar. E adotei o pensamento criativo em vez de crítico. Eu fiz a trilha toda inspirado, buscando o lado positivo, reconhecendo os problemas como parte do grande desafio. Comi o pão que o diabo amassou ... mas cada vez que eu olhava para o alto, o pão virava um pudim feito pela minha mãe. Eu estava no Himalaia. De frente para o Everest!
Era um lugar tão especial, as paisagens tão deslumbrantes, o povo tão receptivo, que para estar lá , havia de se pagar um custo alto. Mas valia a pena.
Enfrentando a trilha de forma criativa, transformei o que poderia ser um pesadelo na viagem da minha vida.
Cheguei aos 5 mil metros. Começou a caminhada na neve. O mal da altitude ameaçando a todos. A gente tinha que monitorar a cor do xixi, a dor de cabeça, o vômito, os sinais de que poderia estar tendo problemas. A gente tinha que ficar de olho na trilha, onde um tropeção podia significar rolar pela montanha. Tinha que empurrar a comida goela abaixo.
Descobri o outro "Cê" :
CORAGEM.
Para que serve um sujeito que conhece o que faz, é criativo, mas não tem coragem?
Havia riscos a enfrentar. Eu tinha aprendido muito antes de ir para a trilha. Mas ali era tudo ou nada. Era subir, andando por 3,6, até 8 horas sobre barro, pedras, água e neve.
Seguindo as recomendações do líder ao pé da letra. E botando a cara para bater.
Era necessário ter coragem de cruzar a ponte velha, de dormir na barraca com 15 abaixo de zero, de continuar andando em meio à nevasca.
Já no Campo Base, enquanto eu me preparava para dormir, pensei no local onde estava. O ruído das avalanches não deixava dúvidas: aquele lugar estava vivo. Os blocos de gelo estavam se movendo. As fendas se abrindo e fechando. A qualquer momento aquilo tudo podia vir abaixo. Coragem! O risco estava ali para ser enfrentado. Eu estava preparado. E, depois de milhões de anos, não ia ser justo no dia em que eu estava lá que uma tragédia ia acontecer ...
Foi quando claramente me apareceu o quarto "Ce" :
CONSEQUÊNCIA.
Quais podiam ser as conseqüências de minha aventura?
Sem conhecimento, eu podia me complicar. Me machucar ou até morrer.
Sem criatividade, eu iria me incomodar e aproveitar muito pouco aquela maravilha de lugar.
Sem coragem, eu nem sairia de Katmandu ...
Por outro lado, de alguma forma aquilo mudaria minha vida.
Pude aprender lições óbvias, que teoricamente são esfregadas em nossa cara no dia a dia, mas que na Trilha do Everest viram a verdade absoluta.
Como, por exemplo, o trabalhar em equipe. A necessidade de comunicar-se. O respeito aos companheiros e, principalmente, subordinados.
Aprendi que nada resiste a um passo atrás do outro, sistemático e constante.
Aprendi que, depois de uma grande subida, onde a gente ganhava altura, vinha uma grande descida. Descer faz parte da subida do Everest. Não é negativo. Não é uma derrota.
Chegar ao Campo Base, meu objetivo, seria só metade da viagem ...
Aprendi, no meio da subida terrível, a olhar mais para baixo do que para cima. Assim eu via o quanto havia subido e não quanto faltava para subir. Eu me auto motivava ao ver o lado positivo!
Na volta, depois de conquistar o meu Everest, descobri com prazer que o exercício de preparar um site (
http://www.omeueverest.com ), escrever um livro ( O MEU EVEREST - Geração Editorial ), elaborar uma exposição fotográfica e preparar uma palestra a respeito do que aprendi na viagem, prolongou minha aventura muito além dos 15 dias em que permaneci nas montanhas.
Esse esforço todo mostrou mais uma lição: conhecimento a gente só adquire fazendo. E ensinando os outros COMO fazer.
Eu tinha um sonho. E preferi, em vez de continuar sonhando, transformá-lo em realidade.
Com conhecimento, criatividade, coragem e conseqüência.
Quatro "Cês" que te ajudarão a conquistar o seu Everest.
Seja lá qual for.
http://www.lucianopires.com.br/script/artigos/abre_artigo.asp?cod=233 ( Obs.: Como o autor continua escrevendo, o link se desatualiza! Verifique a data para encontrar o texto.)
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GregorioIvanoff - 05 Mar 2007
Processo:
ambivalência
Aprendizado e crescimento:
monitoramento em desafio
Palavras-chave:
criatividade em sinais,
risco em conhecimento, conceito de competência,
individualização,
preparação,
trabalho,
agenda, Instituto de Psicologia, USP, Departamento de Psicologia Social e do Trabalho
Keywords: motivation reconsidered
BRESSANE, José Augusto Rabello. Motivação. Disponível em <
http://thayssat.livejournal.com/?skip=1 >.
Conceito de liderança. Poder de mudar? Atuação que produz motivação. Notas de Aula 4. Prof. Dr. Sigmar Malvezzi. Disciplina PST5716-2003, 31 mar. 2003.
RIGO, Viviana. Motivação nas Organizações. Disponível em <
http://www.splicenet.com.br/canais/noticias/noticias.php?id=15167 >.
Wikipedia. Disponível em <
http://pt.wikipedia.org/wiki/Motiva%C3%A7%C3%A3o > e <
http://en.wikipedia.org/wiki/Motivation >.
http://scholar.google.com.br/scholar?q=%22motivation+reconsidered%3A+the+concept+of+competence%22+White+R+W&hl=pt-BR&lr=&btnG=Pesquisar&lr=
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GregorioIvanoff - 09 Mar 2006
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